Uma reportagem veiculada no programa Fantástico, da Globo, nesse domingo (16), mostrou um esquema de corrupção que usou trabalhadores pobres para desviar quase R$ 30 milhões da prefeitura de Canapi, no Sertão de Alagoas. A maioria dos “laranjas” é de beneficiários do programa Bolsa Família, que foram enganados. O esquema privou a população daquilo que é mais básico da vida, a água.
De acordo com o delegado da Polícia Federal de Alagoas Antônio José Silva Carvalho, foi montada uma organização criminosa com o objetivo de subtrair todo e qualquer tipo de recurso que houvesse nas contas da prefeitura. “Foram desviados, aproximadamente, R$ 10 milhões para suposto abastecimento de uma cidade que hoje passa por uma das maiores secas que o Nordeste atravessou”, disse o promotor de justiça, José Carlos Castro.
“Foram encontradas irregularidades na aquisição da merenda escolar, fraldas descartáveis, transporte escolar, gerenciamento de carros pipas”, afirmou o delegado Antônio. O montante desviado gira em torno de R$ 27 milhões. Segundo investigações, esse é o total desviado entre 2012 e 2016. Na época, o prefeito era Celso Luiz Tenório Brandão, afastado pela justiça no ano passado por conta desses desvios.
O ex-prefeito do município de Canapi, Celso Luiz, é figura carimbada na Polícia Federal em Alagoas. Ele foi alvo da Operação Taturana em 2007, na época era deputado estadual, chegando a ser preso, e é conhecido como um dos últimos coronéis do sertão alagoano, declarou o delegado da PF.
A cidade tem certa de 18 mil habitantes e está entre o municípios mais pobres de Alagoas. De acordo com o atual prefeito de Canapi, Vinícius José Mariano de Lima, (DEM), cerca de 70% de uma população de 18 mil habitantes vive do Bolsa Família.
Os “laranjas” da região foram usados pela quadrilha para abrir empresas de fachada e passar notas por serviços não prestados. Um dos operadores da fraude era o secretários municipal de Assuntos Estratégicos de Canapi, Jorge Valença, que utilizava uma série de laranjas.
Esquema
Ele é dono de um mercadinho da região, o qual que vencia as licitações na prefeitura para a entrega de gêneros alimentícios, utilizando beneficiários do bolsa família, pessoas que ficavam às margens da rodovia, seduzindo-as com a oferta de entregar cestas básicas.
José Santos da Silva é servente de pedreiro e disse que o secretário ofereceu feijão para que ele fosse até o banco assinar alguns documentos. Ele não sabe ler e nem escrever. No papel, José foi colocado como dono do mercadinho. Acredita-se que Jorge Valença seja o verdadeiro dono do estabelecimento, que levou R$ 806 mil da prefeitura. “Se eu soubesse ler, não tinha feito”, lamentou José.
Cícero Inácio de Lima é vigia e faz bico de padeiro. Também só no papel foram pagos em fevereiro do ano passado R$ 533 mil em seu nome. “Graças a Deus não vi nem a cor desse dinheiro”, disse Cícero.
A quadrilha usou Cícero para alugar um trator de esteira no valor de R$ 384 mil. “Eu me sinti envergonhado, humilhado, meus amigos soltavam piadinha comigo, ‘olha o homem do milhão'”, lamentou o vigia.
Já com o agricultor Pedro Alves da Silva, vendia picolés quando o esquema usou os documentos dele. “Eu nem tenho cartão de banco, nem nada de banco. Só vivo da roça, da agricultura”, afirmou Pedro. No papel, Pedro prestou serviços de abastecimento de água potável, ele foi usado para lavar pelo menos R$1.700 milhões, incluindo locação de trator.
Em nota, o advogado do ex-prefeito de Canapi, Celso Luiz, disse que ele é vítima de uma perseguição política e jurídica, e que nada ficará provado contra o mesmo, e que ele está à disposição da Justiça. Também por meio de nota, o advogado do ex-secretário Jorge Valença, disse que todos os negócios realizados com a Prefeitura de Canapi, foram realizados dentro da legalidade, e que continua à disposição da Justiça.
Esperamos que o prefeito venha a ser punido e afastado definitivamente da vida pública. Um escândalo dessa ordem não pode ficar impune”, disse o promotor José Carlos.
Via GazetaWeb
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