Os enjoos provocados pela quimioterapia ou a perda dos cabelos não são motivos para Marília Seriacopi de Sylos, de 16 anos, deixar de estudar e se preparar para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A luta que travou contra a leucemia desde o ano passado a faz pensar em estudar medicina e se especializar em oncologia. Por isso, mesmo no segundo ano do ensino médio, não quer perder tempo e fará o exame como treineira para testar os conhecimentos.
Marília está entre os 44 estudantes que estão sob algum tratamento de saúde e farão o Enem dentro de um hospital do país, segundo o Inep. Trinta e seis estão em São Paulo, quatro em Campinas, dois em Goiânia (GO) e dois em Fortaleza (CE). A prova será aplicada por funcionários do Ministério da Educação e os candidatos terão de se submeter às mesmas regras dos demais alunos, incluindo tempo de prova. No total, o Enem 2016 tem mais de 8 milhões de inscritos.
Quando conversou com a reportagem do G1há um mês, Marília estava internada desde agosto à espera de um doador de medula compatível para um transplante. Encontrou. Teve uma alta temporária no dia 14 de outubro, mas volta no dia 20 de novembro. O transplante será em 1º de dezembro. Todo o tratamento é feito no Itaci – Instituto de Tratamento do Câncer Infantil, ligado ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Até a nova internação, terá de ir ao hospital para consultas semanais, mais um ciclo de quimioterapia, e para fazer o Enem nos dias 5 e 6 de novembro.
Marília recebeu o diagnóstico de leucemia no ano passado. Ficou internada entre novembro de 2015 a fevereiro deste ano. Em agosto, a doença reapareceu, e aí ela precisou correr atrás de um doador para fazer o transplante de medula. Encabeçou uma campanha pelas redes sociais para incentivar a doação de sangue e medula, que pretende, inclusive, continuar, mesmo após ter encontrado o doador.
Durante o tratamento nunca perdeu o bom humor ou deixou de estudar (e de sorrir). Os amigos do Colégio Franciscano Nossa Senhora Aparecida (Consa) onde estuda, costumavam levar xerox dos cadernos com as matérias ao hospital e ela teve aulas semanais com uma professora particular de literatura e redação. Agora, os professores estão indo até a sua casa, já que apesar da alta temporária, ela ainda não pode voltar à escola por conta da imunidade baixa.
“Desde o começo do tratamento sempre penso no lado positivo, sobre o que vem de melhor. Sempre penso que vai dar tudo certo, não tenho medo do que vai acontecer. Cada quimio é uma forma de eu poder me superar.”
Foi assim quando a enfermeira bateu na porta do quarto para raspar os cabelos de Marília, já enfraquecidos pelos efeitos da quimioterapia. “Encenei uma espécie de remake de Laços de Família, com fundo musical e tudo. Não que eu não tenha ficado triste de perder o cabelo, mas não depressiva ou arrasada. Comecei a gostar de mim careca, me achar bonita.”
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