São 23h50 de uma noite calorenta em uma cidade conhecida por sua riqueza: Capital do Sertão, Capital do Ouro Branco, Capital do Conhecimento, dentre outros adjetivos que lhes são dados diariamente.
Uma criança aparentando ter 6 anos de idade chega até ao hospital daquele município, com quase 40º e muita coceira no corpo, os pais desnorteados, pois aquele é o único hospital da região. Enquanto os pais estão desorientados por não saberem como lhe dar com aquela situação, alguns enfermeiros e auxiliares passam a maior parte de seu plantão conversando, para passar o tempo e tentar esquecer o calor infernal que estava fazendo naquela segunda-feira, 18 de dezembro de 2017.
00h30, o médico descansa em berço esplêndido, ninguém pode acorda-lo, ninguém pode fazer barulho. Enquanto isso tem uma criança na recepção com a mesma temperatura citada acima.
00h45, várias gargalhadas é segunda-feira não tem muito movimento, se preocupar com a saúde da população pra que? Ao final do mês o salário cairá na conta mesmo, isso independente de quantas vidas tenha sido salvas ou não.
01h09, um profissional diz aparentando receio de levar uma “xinga” (Expressão usada para chamar atenção), diz: “Veja com o pessoal lá dentro”.
01h12, a mãe da criança pergunta se o médico não vai atender, pois já se passaram mais de uma hora desde a chegada deles ao hospital e alguém da enfermaria fala: “Já chamei, agora é só esperar”.
01h25, os pais saem do hospital com a criança queimando de febre, sem atendimento médico. FIM
Isso poderia ser parte de um roteiro da série Grey’s Anatomy que é uma série de televisão norte-americana de drama médico exibida no horário nobre da rede BBC. Porém é a realidade de um hospital que sempre funcionou como trampolim político e de uma saúde desprezada pelos governantes.
Algo tem que ser feito, sim algo tem que ser feito, mas não faça barulho, pois o médico não pode acordar.
Maycon Fernandes/ Jornalista DRT 2304/SE